O período de pós-quarentena será um novo momento desafiador. Para uma adequada transição e retomada dos negócios é preciso um olhar de fora pra dentro. Os fatores externos é que dão o ritmo. As empresas devem continuar monitorando as recomendações da OMS e seguindo os decretos municipais e estaduais. Algumas regiões começaram a flexibilizar medidas de restrição. Hoje a Prefeitura de Porto Alegre deve atualizar o decreto e liberar o funcionamento, com restrições, de bares, restaurantes e shoppings.
A saída da quarentena deve ser gradual e com o máximo de cuidado. As empresas que eventualmente se anteciparem, no anseio de voltar a normalidade o quanto antes, vão expor seus colaboradores e podem enfrentar uma situação muito difícil depois. A saída do isolamento, se não feita de maneira correta, pode gerar uma nova onda de contaminação e casos fatais.
É importante entender que cada empresa faz parte de um grande sistema econômico. Sozinha, o efeito é pequeno. É preciso ter uma visão sistêmica através da cadeia de valor para fazer a análise da recuperação do negócio. A cadeia produtiva de uma empresa envolve o funcionamento de fornecedores e parceiros, os processos internos da empresa e a relação com os clientes. A retomada das atividades das empresas depende das condições de funcionamento da sua cadeia produtiva. Considerando que a geração de valor aos clientes é o objetivo central das empresas, é fundamental que a análise do comportamento dos consumidores receba a devida atenção, assim como os processos que sustentam a relação e a satisfação dos clientes. Os consumidores podem pressionar por novas mudanças nos processos internos e no mix de produtos e serviços das companhias, e as empresas que melhor se adequarem, terão uma vantagem comparativa em relação aos seus concorrentes.
Esse período de crise pode trazer mudanças radicais em alguns fatores de negócios e as empresas que estiverem alicerçadas nesses aspectos serão seriamente impactadas. As aglomerações, por exemplo, serão provavelmente evitadas mesmo após o fim do isolamento, o que vai acabar por influenciar muitos negócios em um período ainda maior. Alguns segmentos foram mais afetados e estão praticamente paralisados, como, cinemas, shoppings, companhias aéreas, hotéis e esportes coletivos. Outros segmentos estão se adaptando diante desse novo contexto. Muitos bares e restaurantes migraram para o regime de take away e delivery.
Esse novo contexto pode levar muitas empresas a ajustarem sua proposta de valor. Algumas mudanças já são facilmente percebidas nos canais de comunicação, canais de distribuição e contato com os clientes. Com as pessoas circulando menos nas ruas, a propaganda, por exemplo, foi ainda mais direcionada ao meio digital e mobile.
A crise está trazendo muitas demandas internas. As empresas, para se restabelecerem, e liderar após a crise, precisarão de ajustes e adaptações coordenadas por projetos e planos estruturados através de uma área de gestão de projetos. Essas mudanças e ajustes vão refletir na alocação de recursos. Muitas empresas precisarão de uma política diferente de alocação de recursos.
O plano para o pós crise traz muitas questões. Ainda não se sabe exatamente quando todas as atividades serão restabelecidas. Também acho que não será como antes, mas pensar em pós-crise é isso. A longo prazo é pensar que a crise vai passar e que um plano de recuperação será necessário, e a empresa precisa estar preparada. O plano, neste momento, deve ter o foco na transição. Com um plano inicial e o monitoramento dos resultados alguns ajustes poderão ser feitos durante o percurso até que o negócio estabilize de alguma forma. O momento correto da execução dos planos será importante. E, tão importante quanto o funcionamento de um comitê de crise ou um grupo de trabalho para gerenciar a crise, é a estruturação de um grupo de trabalho com a responsabilidade de fazer essa transição e ajudar a empresa a liderar e sair da crise.