No mercado de trabalho, os recrutadores avaliam as fraquezas e as qualidades de candidatos na seleção de profissionais para suas organizações. Em muitos casos a descrição de pré-requisitos é grande e o que deveria ser um processo simples, torna-se complexo. A sensação que fica, muitas vezes, é de que procuramos profissionais perfeitos. A lista de características e de qualidades é extensa e é difícil encontrar um candidato competente correspondendo a todos os requisitos. Por outro lado, nos últimos anos, ‘o potencial’ vem ganhando espaço e sendo fator determinante em contratações e promoções.
Entre os requisitos comportamentais, defendo a humildade como adjetivo fundamental para o desenvolvimento pessoal e profissional. Esta ideia surgiu há alguns anos, quando ainda estava no colégio. Participava, com frequência, de campeonatos de futsal e de basquete e me encantavam com a humildade de alguns colegas. Sem entrar no mérito de qualidade, os colegas que reconheciam suas limitações, normalmente, eram aqueles que tinham um desempenho diferenciado e que apresentavam um salto no seu desenvolvimento ao longo do tempo. A origem do adjetivo é a palavra húmus que quer dizer ‘solo sobre nós’. Qualidade daquele que tem ‘os pés no chão’. O adjetivo refere-se às pessoas que se mantêm no nível dos demais. O filósofo e professor Mário Sergio Cortella em palestra ao Centro Universitário da FEI chamou atenção para as diferenças entre humildade e subserviência. Este último é servil à vontade alheia. É submisso. Enquanto a humildade é ter consciência de suas próprias limitações. Requer consciência do profissional em relação a sua realidade e a ausência de orgulho excessivo. Portanto, para ser humilde é preciso ter autoconhecimento e autoreflexão para identificar suas próprias capacidades. Contrário a isso é a arrogância, ou seja, a negação de sua própria realidade. Adjetivo correspondente àquele que se considera superior aos outros e que não aceita posições diferentes da sua. Ser arrogante é agir com prepotência ou desprezo em relação aos outros.
O profissional humilde conhece suas habilidades, suas competências e suas fraquezas. Ele é humilde consigo mesmo. Realista e trabalhador incansável na busca do seu desenvolvimento. Quando demandado, esse profissional avalia as aptidões necessárias e compara com suas possibilidades. O gap entre sua capacidade atual e a capacidade futura necessária é a sua motivação. O zagueiro humilde no futebol é aquele, por exemplo, que desarma o adversário e lança para o seu colega com habilidade de criar e armar jogadas para o seu time. Quando faz isso, o zagueiro reconhece suas limitações e, por isso, não vai além de suas capacidades. Ele compreende o seu papel e a necessidade de jogar com os seus colegas. Nas empresas, o profissional humilde é aquele que não promete e não cria expectativas além daqueles possíveis de entregar. Quando exerce o papel de liderança o profissional estimula a participação de todos os seus colegas e cria o ambiente para que todos possam contribuir com suas capacidades e que possam contar com as habilidades de colegas para superar suas próprias limitações. O grupo se torna mais forte e robusto. O adjetivo, evidentemente, é fundamental para o aprendizado de pessoas e de organizações. Para aprender é preciso saber o que não se sabe e identificar suas próprias falhas para buscar as soluções necessárias. É preciso ter coragem para buscar aprendizado, melhorias e aperfeiçoamento. No texto ‘Os desafios dos empreendedores (de sucesso)’ publicado no Jornal do Comércio descrevi a relação do empreendedor com o seu negócio e destaquei a falta de humildade em reconhecer seus limites e suas fraquezas como armadilha e fator decisivo na estagnação e declínio das organizações.
O autoconhecimento necessário é uma temática antiga. Uma das inscrições nas paredes do templo grego Oráculo, localizado em Delfos, ganhou grande atenção de pensadores ao longo dos anos: “conhece-te a ti mesmo”. No templo, dedicado a Apolo, buscava-se o conhecimento do presente e do futuro.