A governança corporativa surgiu em meio a revolução industrial e o surgimento das grandes corporações pelo mundo.
Mais impactante que o número de invenções, que propiciaram a revolução industrial, foram as mudanças e os impactos crescentes que essas descobertas proporcionaram nas escalas de produção e na intensidade dos bens de capital como recursos econômicos. O poder que antes vinha da terra, passou a valorizar o capital. Todos esses fatores, reunidos, influenciaram, diretamente, o surgimento das grandes corporações, que, por sua vez, gerou o estabelecimento do sistema de sociedade anônima, a dispersão do capital, a separação entre propriedade e gestão e, a intensificação das divergências de interesses entre os stakeholders.
Foi neste contexto que a governança corporativa ganhou destaque e importância. Conforme as empresas cresceram, maior foi a necessidade de um sistema para cuidar de conflitos e outros desalinhamentos nas companhias. No entanto, a governança evoluiu e deixou de ser apenas um sistema para gerenciar e mediar conflitos de interesse entre as partes relacionadas. Com sua maior disseminação, recentemente, muitos profissionais argumentam a favor da governança e de sua importância no monitoramento e fiscalização da performance da companhia. Cada vez mais este foco sob o desempenho vem ganhando seguidores.
Mas, afinal, quais são as diferenças entre a governança e a gestão de organizações?
Parece que essas duas áreas possuem muito mais semelhanças do que diferenças. A administração é tão antiga quanto a presença de seres humanos na terra. A gestão, ganhou destaque mais recentemente, com a evolução das atividades gerenciais nas organizações no último século. Henry Ford foi um dos empreendedores mais conhecidos na aplicação da gestão moderna. Contudo, desde quando há administração, o objetivo sempre foi a conquista de resultados, com aplicação de esforços. Portanto, a administração evoluiu, assim como as organizações, em um processo de retroalimentação.
No Brasil, a governança ainda está, predominantemente, relacionada as grandes organizações, sobretudo aquelas inseridas no mercado de capitais. O problema é que este mercado ainda é muito pequeno no país. São apenas 365 companhias listadas na bolsa de valores (BM&F Bovespa). É, definitivamente, um número muito pequeno de empresas. Basta comparar com Canadá, 1524 empresas, Índia (5749) e França (1299). Outro problema ainda maior, é que a governança não é assunto apenas para as grandes corporações. A governança, assim como a gestão, está presente em diversos ambientes, não apenas em empresas. A governança flui, inclusive, pelas relações familiares e é importante em organizações de diferentes contextos, porte, mercado e setor.
A governança é uma nova área, uma nova especialização dentro da gestão, que vem ganhando muita força nas últimas décadas. A governança, que emergiu em meio a revolução industrial, evoluiu para além das relações entre os stakeholders. Seu foco na busca de melhores resultados, aproxima-se ainda mais da gestão, que sempre teve este objetivo.
Diante de tantos debates sobre o assunto, vale a recuperação de um dos pontos que influenciou a disseminação da governança, a separação entre propriedade e gestão. Embora, este tópico não se aplique em muitas empresas brasileiras, muitas pessoas insistem na aplicação da governança em empresas de menor porte, da mesma forma como ela é praticada em empresas de grande porte. Por fim, não havendo esta separação, entende-se que um modelo diferente de governança deve ser aplicado neste contexto. Este modelo não deve apenas trazer questões de governança, mas, também, agregar na gestão das empresas, para que juntas, governança e gestão possam agregar mais valor aos stakeholders. É comum em muitos casos a necessidade de um trabalho de base para a organização da gestão da empresa.